Nascido em solo italiano e com cidadania brasileira, jovem, de 15 anos, vive primeira experiência com a seleção italiana sub-16
Por Thales Soares — Rio de Janeiro
Garimpar talentos ainda na juventude é uma missão árdua. O funil do futebol costuma ser bem apertado e para chegar no ápice de defender uma seleção de primeira linha o caminho é ainda mais longo. Aos 15 anos, camisa 10 da Roma na sua categoria, Pietro foi chamado na semana passada pela comissão técnica da equipe sub-16 da Itália para um período de treinos. O jovem aceitou e trabalhou por três dias em um grupo formado por 61 garotos. Uma primeira experiência que poderia ser tratada como natural no processo de evolução de qualquer promessa. Dois fatores, no entanto, chamam a atenção: ele é filho de Sandrinho, craque de futsal, nasceu em solo italiano, mas tem também nacionalidade brasileira.
Ainda sem qualquer contato da CBF sobre a possibilidade de defender a seleção brasileira, Pietro segue sua vida em Roma, tendo o pai como grande exemplo de atleta. Sandrinho participou de grandes times brasileiros na história do futsal, atuou na Europa, foi campeão do mundo pelo Brasil e se estabeleceu na Itália como escolha de vida, onde o filho mais velho (Victor, de 24 anos) joga futsal desde os 17 anos.
Nesse processo de aprendizado em sua carreira, Pietro ainda evita definir que país defenderá no futuro quando for obrigado a escolher. No momento, ele se concentra, apoiado por pai e sua mãe Luciana, na evolução de sua carreira como meia-atacante da Roma.
- Fico muito tranquilo, porque eu sei que tenho uma identificação com o Brasil, passai muito tempo vivendo no Brasil, mas nasci e sou italiano. Já tive minha primeira oportunidade na Itália. Quem sabe futuramente pelo Brasil. Tenho que decidir mais para frente. É seguir firme na Roma me dedicando fazendo meu melhor como estou fazendo para que as oportunidades apareçam - disse Pietro.
Ainda muito jovem, o filho mais novo de Sandrinho já tem uma longa experiência. Entre idas e vindas para a Itália, antes de se estabelecer no país, passou Pescara, Ypiranga, Palmeiras e Corinthians antes de vestir a camisa da Roma. Com a camisa 10 do sub-16, sabe o peso que carrega pelo número que veste ter sido consagrado por Totti. Inclusive, ele já teve a oportunidade de ver o ex-craque de perto, mas ainda não o conheceu.
- Sempre acaba tendo um pouco uma responsabilidade a mais por causa da história da camisa 10, do Totti. Foi um grande jogador que fez história aqui. É um peso a mais mesmo. Lido bem com isso, faço meu jogo tranquilo - comentou Pietro.
Sandrinho entende bem esse peso da responsabilidade. Com o filho mais velho no futsal e Pietro também iniciando a carreira nas quadras, ele acompanhou a série de comparações com a sua carreira. Viu Victor, inclusive, pedir para não ser chamado de Sandrinho quando estava na base em São Paulo. Agora, procura ajudar para evitar qualquer pressão excessiva.
- Totti é um ídolo, um deus, só jogou na Roma. Essa cobrança de aparecer um novo Totti, de se fazer um novo Totti existe. Mas o Pietro é muito tranquilo e pé no chão. Tem muito que aprender e mostrar. Deixa as comparações só para os outros - afirmou Sandrinho.
A imersão de Pietro com a camisa da Roma começou em março de 2023. No clube, existe a preocupação de colocar os jovens em contato com o ambiente da torcida o Estádio Olímpico. A base atua no centro de treinamento em Trigoria, onde passam o dia estudando e treinando.
- Já vi os jogos da arquibancada, já fui gandula, fica perto do campo, é uma experiência incrível. Parece que você está jogando. Tive essa oportunidade na Europa League, em um jogo contra o Villareal. A atmosfera aqui é demais, a torcida muito apaixonada. Eles sempre levam os meninos da base, colocam para ter essa experiência de sentir a torcida vibrando com o time - contou.
Nas categorias de base da seleção italiana, a concorrência é grande. Sessenta e um jovens nascidos em 2008 estiveram no fim de semana em Coverciano. Até o técnico da seleção principal, Luciano Spaletti, esteve no local. Além de Pietro, outros dois brasileiros estavam no grupo: o goleiro Renato Widmer D'Autilia, do Bologna, e o meia Matteo Papaccioli, do Como.
- A gente procura conhecer todo mundo, falar com todo mundo. Na seleção, no clube sempre tem disputa saudável por espaço, mas é procurar sempre treinar forte e se dedicar para poder ter oportunidade de ser convocado mais vezes, estar entre os titulares, futebol é uma competição em geral - explicou.
Sandrinho confia no sucesso de Pietro e segue ligado ao esporte de várias formas. O ex-jogador de futsal mantém uma academia no Brasil em parceria com o Clube Atlético Ypiranga e ainda faz alguns trabalhos como comentarista. À distância, acompanha Victor, que atua no Canicatti, da Sicília. E para que ambos conquistem seus objetivos, ele considera o molho brasileiro fundamental.
- Por mais que nós não estejamos vivendo nosso melhor momento no futebol, um brasileiro em qualquer lugar da Europa desperta curiosidade. Querem ver de perto, conhecer, acham que o brasileiro vai fazer alguma coisa diferente, o improviso, trazer alguma coisa nova, gostam, tratam bem. O Brasil é sempre referência quando se fala de futebol - afirmou Sandrinho.